No tempo que passei nas Torres del Paine — o tempo mais sem estresse da minha vida, trabalhando de voluntário nas trilhas do parque com uma organização chamada AMA (Agrupación Medio Ambiental) —, eu tinha como lugar de escapada a Cueva del Puma, uma colina de granito a 5 minutos a pé de onde morava.
Escalei com corda mesmo apenas duas vezes o lugar, mas alguns boulders mais vezes. Uma caverna dá nome ao local, quem sabe um refúgio de inverno dos pumas que vivem na região, que descem da montanha em busca de comida, pois todos outros animais descem mais com a chegada do frio: zorros, lebres…
O boulder que eu mais fazia. Homenageado com lightdrawing
Não tem agarra!
Escalando sob a luz do luar
Com vias de graduações diversas e alguns tetos bem legais, fiz apenas uma parte mais vertical, em top rope, pois as vias não estão bem equipadas. Com o frio, nem precisa de magnésio. Nas duas vezes que escalamos, entramos noite adentro, com lâmpadas frontais ou com a luz da lua cheia, já que os dias ficavam muito mais curtos em março e às 20h já começava a escurecer. Isso me rendeu o apelido de Murciélago (morcego).
Me gusta o granito do local. Não resbala, mas também não tem muitas agarras visíveis, e tem que confiar em reglettes — algo meio difícil quando os dedos estão gelados. Muito equilíbrio é necessário pra ir avançando, colado na parede. O corpo inteiro parece que sai com o cheiro da rocha.
O local foi primeiramente equipado muito antigamente, lá nos anos 60, pelos primeiros desbravadores da escalada nas Torres del Paine. Europeus, na maioria italianos, franceses e austríacos, que se lançavam em expedições pela Patagônia e esperavam dias e dias abaixo da montanha, em um ponto onde se pudesse ver as torres, até que abrisse uma janela de bom tempo. O teto de granito devia ser abrigo natural contra a chuva e o vento, sempre presentes no tempo imprevisível da Patagônia.
Outra hora vem mais posts sobre o parque!